sábado, 2 de abril de 2011

Dedá Quer Lançar Candidato do PT à Aracaju. Desta forma dois filhos de Capela poderia brigar pela prefeitura da Capital Sergipana: SUKITA X SILVIO SANTOS: Leia parte da entrevista!!!!

Cláudio Nunes - Sobre a reforma política em pauta no Congresso Nacional, qual o modelo que o senhor defende?
Marcelo Déda - Desde que fui deputado federal eu defendia o voto em lista, o fim da reeleição com mandato de cinco anos e a mudança no calendário eleitoral com eleição unificada, ou eleições de dois em dois anos. Em uma eleição o foco seria o debate regional e na outra o debate nacional. Como seria isto? Em uma eleição você definiria presidente, senador e deputado federal, tendo como grande debate a república e na outra seriam definidos governador, deputado estadual, prefeito e vereador, com debate voltado para o poder local. Esse modelo permitiria um aproveitamento melhor do espaço que a eleição permite ao cidadão para fazer as modificações necessárias no espaço político. Veja bem, eu disse "defendia". Reforma política não é apenas aquilo que você tem como ideal, mas aquilo que você pode objetivamente aprovar em um Congresso Nacional, hoje compartilhado por várias legendas partidárias com os seus interesses legítimos. Essa reforma de agora não pode ser muito pretensiosa, porque quanto mais ampla ela for, mais impossível de ser aprovada ela se torna. Quem não quer a reforma política costuma normalmente apresentar uma proposta gigantesca, pois sabe que não passa. Acho, então, que a grande tarefa dos políticos brasileiros hoje é tentar focar em um conjunto de mudanças que ajude a impulsionar a democracia brasileira, a derrubar a corrupção e a dar mais legitimidade à nossa democracia.

Jozailto Lima - O senhor está entre os petistas que fazem beição quando dizem que Dilma estaria gerindo bem melhor que Lula?
Marcelo Déda - Não, não faço beição não! Até porque um homem de 50 anos com 30 dedicados à política não pode avaliar um governo de oito anos com os primeiros passos de uma gestão de quatro. As pessoas estão confundindo forma com conteúdo. A presidenta Dilma, em seu estilo pessoal, dentro do seu perfil e de sua personalidade, está implantando o mesmo projeto e o mesmo programa do presidente Lula, obviamente atualizado para as novas exigências do país. Nem o meu segundo governo será igual ao primeiro - e eu sou o mesmo governador. Eu acredito que há, na oposição e em setores da mídia, um destaque ao estilo pessoal dela como contraponto ao estilo pessoal de Lula, e transformam isso em uma possível diferença política. Como eu tenho a felicidade de conviver com os dois e, depois da posse dela, tive a oportunidade de ver os dois juntos e conversar com ambos, isso é algo que simplesmente não me preocupa. A preocupação de Dilma com Lula, o respeito dela, a gratidão e a compreensão do significado histórico de Lula, são explicitados em palavras, gestos e olhares, quando os dois estão juntos. Eu tive uma longa audiência de duas horas com Dilma para preparar o Encontro de Governadores, quando conversamos muito sobre Lula e era visível a preocupação dela com ele. Lula vive a satisfação de quem fez uma escolha correta e ela vive a alegria de estar dando prosseguimento a um projeto numa posição em que ela está, graças, também, ao papel do ex-presidente Lula.

Rosângela Dória - Pegando o gancho das relações pessoais e políticas, o que o senhor diz sobre as tentativas de fazer intriga entre você e o prefeito Edvaldo Nogueira?
Marcelo Déda - Tenho a satisfação de ter feito a escolha certa para me suceder na Prefeitura Municipal de Aracaju, o companheiro Edvaldo Nogueira, porque quem escolheu o eleger prefeito foi o povo. Minha relação com Edvaldo é uma relação de extremo companheirismo político e amizade pessoal. Não significa dizer que, eventualmente, nós não tenhamos uma ou outra divergência, como também não significa dizer que essa amizade e esta relação me permitam interferir de forma abusiva no governo de Edvaldo. Eu digo aqui para vocês com a maior tranquilidade que tenho com a Prefeitura de Aracaju um relacionamento espartano. Naquilo que concerne ao cotidiano administrativo, a cargos ou ao dia-a-dia da Prefeitura, eu só opino quando Edvaldo me dá um telefonema ou marca uma conversa. Do ponto de vista dos debates estratégicos no nosso campo, obviamente que eu discuto e debato com Edvaldo com muita frequência. Edvaldo, aliás, integra meu conselho particular. É um interlocutor do mesmo nível de José Eduardo Dutra ou do nosso querido Silvio Santos e de vários outros amigos pessoais com os quais eu discuto política até cotidianamente.

Jozailto Lima- E quanto às análises pós-eleitorais que atribuíram a Edvaldo a responsabilidade pela sua derrota nas urnas em Aracaju? Quem foi julgado?
Marcelo Déda - Acho que foram julgados o meu governo e a administração de Edvaldo. Na verdade, o povo aracajuano julgou um grupo político no qual as duas presenças mais marcantes são o prefeito e o governador. Eu seria extremamente desleal se atribuísse a Edvaldo a culpa pela derrota eleitoral aqui em Aracaju. Falando com racionalidade, nós todos seríamos muito felizes se tivéssemos uma causa única para todos os fenômenos da política. Seria tudo tão fácil de resolver... Mas a política mexe com emoções, e não apenas com a razão. E Aracaju é uma cidade muito crítica, que manifesta essa posição nas eleições, de forma muito contundente. Então, nas eleições de 2010, o que as urnas de Aracaju refletiram foi uma postura crítica com relação ao projeto político do nosso grupo que tem a mim e a Edvaldo como referências imediatas. E não existe um laboratório para separar o que é culpa minha e o que é culpa de Edvaldo. Devemos compreender o fenômeno e buscar, modesta e humildemente, as medidas necessárias para refazermos o nosso diálogo com a querida cidade de Aracaju, a quem eu devo tanto.

Joedson Telles - Com a possível candidatura de João Alves em 2012, o senhor considera Silvio Santos um bom candidato do seu partido?
Marcelo Déda - Eu considero Silvio Santos um extraordinário quadro do Partido dos Trabalhadores que se pôs à prova em tarefas de administração e revelou-se competente e qualificado. É um político experimentado e um administrador experiente. Acho que ele tem, sim, o perfil para a candidatura, até porque é o vice-prefeito da capital e, nessa condição, desempenhou tarefas fundamentais como secretário de Planejamento e, agora, como secretário de Saúde. Mas acredito que Silvio terá outros companheiros como possíveis pretendentes à Prefeitura. Tem o nome do deputado Rogério Carvalho, que tem circulado no Partido dos Trabalhadores e que reúne também estas qualidades, revelando capacidade de articulação política, liderança e bom desempenho eleitoral. Até o momento, no PT, são esses os dois nomes que têm mobilizado a reflexão da militância. Mas é obvio que a partir de um certo momento esses nomes, ou vão afunilar em um único, ou vão provocar um debate interno para que o partido possa deliberar qual deles irá representar o PT com mais eficiência eleitoral.

Jozailto Lima - E sobre Márcio Macedo?
Marcelo Déda - Eu não sabia que Márcio era candidato. Mas acho que é um nome muito bom, não tenho nenhuma dúvida disso, mas é um nome que não estava lá, até outro dia. Porém, se eu for elencar quem do PT está apto para ser candidato vou falar em Zé Eduardo, em Ana Lúcia, em Iran... Bem, há pelo menos uns 10 bons nomes em condições de pleitear o cargo. Na minha opinião, o PT vai usar como diferencial na análise, o nome que possui mais condições objetivas de vencer as eleições.

Carlos Cauê - As eleições de 2012 certamente serão as mais importantes para o redesenho político do Estado, com consequências em 2014. Como é que o líder Marcelo Déda atuará nas eleições de 2014?
Marcelo Déda - Eu atuarei como líder político de uma coalizão, examinando o quadro político de cada município e buscando construir, na medida do possível, a unidade do bloco em cada disputa. O meu principal papel na disputa de 2014 é liderar o grupo para uma vitória. A ferramenta que eu considero a melhor para esta tarefa é a manutenção da unidade. E onde ela não ela possível, nós teremos que examinar caso a caso.

Cláudio Nunes - No caso de Aracaju, o senhor vai aceitar que o grupo político que hoje lhe apoia tenha dois ou três candidatos?
Marcelo Déda - No momento em que nós tivermos uma conjuntura razoavelmente estabilizada para analisar a nossa intervenção, eu vou avaliar. Há momentos em que você tem que ter um único candidato, em outros o bloco tem que ter mais de um candidato. Depende da conjuntura. É muito difícil fazer política de forma priorística, achando que a realidade é como um cãozinho de madame, que atende aos seus chamados e obedece aos seus comandos. Eu não posso agir como um ditador dizendo que ninguém mais pode lançar candidato na coligação. A única coisa que eu peço aos meus aliados é que mantenham o mais simples e o mais raro dos produtos, que é o bom senso, para que possamos examinar as realidades de maneira adequada para garantirmos a vitória enquanto grupo.

Joedson Telles - O senador Valadares disse que depois da eleição de 2010 haveria uma nova oposição ao seu governo. O senhor já sente isso?
Marcelo Déda - Até esta data, 27 de março de 2011, às 14h, a oposição continua a mesma: idosa e de bengalas.

Cláudio Nunes - O aproveitamento político-eleitoral da questão dos pardais parte de todos os lados, inclusive de aliados do governo. Isto já não ameaça essa pretendida unidade?
Marcelo Déda - A composição da governabilidade pelo Governo do Estado na Assembleia Legislativa não é igual à da governabilidade na Prefeitura e na Câmara Municipal. Isso é uma realidade política que nunca foi problema para mim nem para Edvaldo. O ex-governador Albano Franco, por exemplo, integra a governabilidade da Prefeitura e não integra a minha. Albano tem vereadores na Câmara, importantes para o projeto de gestão de Edvaldo Nogueira e eu tenho aliados no governo que fazem oposição à Prefeitura Municipal, no caso, um vereador do PSC. Este é um fenômeno globalizado, sem nenhum tipo de influência na construção e manutenção da nossa coalizão.

Cláudio Nunes - E sob o ponto de vista do mérito na politização da questão dos pardais?
Marcelo Déda - É aproveitamento político da pior espécie. Eu hoje vi o deputado Mendonça Prado lançando suspeitas sobre a Prefeitura Municipal e me lembrei que quando entrei no governo precisei ir para a imprensa para suspender uma licitação de pneus na Secretaria da Administração que ele comandava. Apelei para o Tribunal de Contas e para o Ministério Público e até hoje não obtive resposta sobre os processos da Fubrás, por exemplo. Lembrei-me de uma "enfieira" de problemas da gestão passada, alguns diretamente vinculados à Secretaria de Administração e, portanto, não reconheço autoridade moral no deputado Mendonça Prado para criticar Edvaldo Nogueira e não vejo autoridade moral na oposição para acusá-lo, do ponto de vista ético. Não há nenhum indício de que aquele escândalo nacional tenha ocorrido aqui. Na verdade, há um escândalo nacional a partir de denúncias de fatos registrados no Rio Grande do Sul que abriu uma suspeição muito grande sobre as empresas que prestam esse serviço. Mas daí a concluir que aquele modelo de atuação da empresa em determinado estado foi replicado em outros, há uma distância quilométrica. Quantos escândalos envolveram grandes empreiteiras nos últimos 10 anos no Brasil que continuaram aqui, atuando na Prefeitura ou no Estado, antes e depois de mim? Com exceção do escândalo da Navalha, que envolvia a Gautama, nenhum outro desses escândalos acabou contaminando contratos em Sergipe. O da Gautama contaminou, porque havia um contrato em Sergipe sendo denunciado e porque o Tribunal de Contas da União decretou como inidônea essa empresa. A partir desta decretação é que todos os contratos com ela tiveram de ser revistos. Então, na verdade, é uma tentativa política de usar um fato nacional para tentar atingir a Prefeitura Municipal de Aracaju.

Rosângela Dória - O senhor teria cancelado esse contrato?
Marcelo Déda - Se houver indícios no contrato com o Estado que justifique a suspensão, eu o suspenderei. Se não houver, vamos continuar a vida. Não vou me contagiar com um escândalo do qual eu não tenho nada a ver. Tenho imenso respeito pelo debate que se faz a respeito dos contratos públicos, mas é preciso que examinemos as coisas com extrema cautela e tranquilidade. Eu vejo o Tribunal de Contas agindo muito rapidamente em um processo como esse e não lembro de uma decisão do Tribunal sobre os processos que eu, governador, mandei para o Tribunal de Contas. E não mandei acusando ninguém, mandei resultados de auditorias e outros escândalos que Sergipe testemunhou e que ninguém sabe dar notícias. Eu não acho errado o Tribunal ser ágil não, agora, tem que ser ágil para Edvaldo, para Déda e para os escândalos de João Alves. A moralidade tem que ser ampla, geral e irrestrita, e não uma moralidade seletiva. É isso o que a sociedade espera de todos nós: governador, Tribunal de Contas, Tribunal de Justiça, enfim, de todos os órgãos e inclusive da imprensa. Digo isso como cidadão. Como também digo que não é correto que a autoridade com responsabilidade de julgar, faça o julgamento em tribuna de rádio. Isso não é correto e não contribui para a democracia. Isso politiza os órgãos de julgamento e a sociedade olha, examina e reflete. O juiz fala nos autos e todos nós nos defendemos nos autos. Na hora em que um juiz julga pelo rádio, dá direito ao administrador de repelir seu julgamento no ar, tirando a proteção institucional que tem que ter um tribunal. A modernidade democrática não é apenas uma demanda de vida política, é também da vida institucional, como um todo.

Fredson Navarro - Em 2010 o PSC bateu o pé dizendo que era uma exigência da cúpula a sua candidatura ao Senado e fizeram o mais votado dos senadores em Sergipe. Para 2012, os Amorim querem lançar um candidato deles com o auxílio do PT, que já tem os seus candidatos e, ao mesmo tempo, dizem que querem o governo em 2014. Como é que fica? O PT teme o crescimento do PSC?
Marcelo Déda - Todos os partidos políticos querem chegar ao poder e é por isso que se organizaram em partidos políticos. Qualquer partido político tem por pretensão justamente o governo. Então, eu acho a coisa mais natural do mundo que o PSC queira governar Sergipe, a Prefeitura de Aracaju, ou os 75 municípios do estado. É um direito do PSC, mas se o PSC quer governar em aliança com o Partido dos Trabalhadores, e, vamos admitir, com o PMDB e o PC do B, compete ao PSC convencer os seus parceiros que o seu projeto é o mais adequado para o povo de Sergipe e também o mais importante para o conjunto da coalizão. O que unifica os partidos políticos é um determinado projeto político em uma determinada eleição ou em um determinado governo. As unidades da coalizão são as unidades partidárias, e, mesmo dentro dos partidos, há as discussões internas. Então não me move o PSC estar se mobilizando para ter candidato em 2014, porque o PT, o PMDB e outros partidos políticos também estão. Qual é a única coisa que eu acho estranha nesse debate todo? É essa relativa precipitação. Nós nem chegamos em 2012 e já existe um desespero para lançar candidatos a 2014. Enquanto o governo for um desejo pessoal, a chance dele acontecer é muito pequena. É preciso que este desejo se transforme em um objetivo coletivo e, sobretudo, que ele tenha referência no desejo da sociedade, em termos de transformação e mudanças. Da minha parte, desde que sou executivo - e já tenho 10 anos nessa história - eu tenho dito que este processo de eleição de dois em dois anos é algo muito complicado para quem governa. Em um ano de eleição, o governador tem sua agenda administrativa, mas ele é obrigado a compartilhar com sua agenda política, senão ele sai do jogo. Eu trabalho nos anos solteiros, como é o caso de 2011, focado na administração, para fazer o que estamos fazendo agora: vamos entregar até maio, R$ 130 milhões em obras, com inaugurações em todo o estado... Porque, senão, a atividade de governo vira uma coisa eleitoreira e não é isso que a sociedade quer.

Jozailto Lima - Pelo seu grau de amizade com José Eduardo Dutra, e de cumplicidade política e unidade de pensamento, você gostaria de vê-lo governador de Sergipe um dia?
Marcelo Déda - Gostaria muito, não apenas pela amizade, mas pelo merecimento que eu vejo na trajetória política e pessoal dele e na compreensão da contribuição que ele ofereceria para o Estado de Sergipe. Ficaria extremamente satisfeito, mas repito que a candidatura de José Eduardo Dutra ou de qualquer outro petista não pode ser um desejo pessoal dele ou do governador, tem que ser um projeto capaz de comover o nosso partido e de ancorar uma coalizão capaz de dar sustentação e viabilidade a este desejo. Se a escolha fosse pessoal do governador, eu poderia até dizer que José Eduardo Dutra era o meu candidato, mas a construção de uma candidatura envolve muito mais que o meu desejo.

Fredson Navarro - Dentro desta construção para 2014, qual é o desejo de José Eduardo Dutra? Ele já conversou com o senhor?
Marcelo Déda - Você não sabe como é difícil para mim aprumar meu próprio barco, desenhar minha própria rota e escolher os meus portos. Eu não vou substituir José Eduardo Dutra na tarefa de expressar o seu projeto político. É algo que só Zé Dutra pode falar. Mas entre eu e Zé há muito mais que amizade, há uma profunda solidariedade política. Eu não tomei uma decisão na minha vida política de 84 pra cá, sem ouvir Zé Eduardo. Espero que até o dia que eu decidir sair deste ramo, seja assim.

Amaral Cavalcante - Como é que o senhor avalia a projeção do seu nome na política nacional como um quadro político e administrativo do PT?
Marcelo Déda - Eu acredito que tenho muito a contribuir com o Partido dos Trabalhadores em sua afirmação enquanto legenda nacional, enquanto partido que governa o Brasil e que ainda tem uma imensa tarefa a cumprir no cenário político da democracia brasileira. Não vou recorrer à modéstia; nem à falsa, nem à sincera. Tenho convicção do meu significado para o meu partido. Sou o único militante do PT, em 30 anos de história, que conquistou quatro vitórias seguidas em primeiro turno para o executivo. Eu sei que isso não é fruto apenas do meu talento pessoal, é fruto também da consistência que o PT tem no estado, da sua capacidade organizativa e do grande trabalho de expansão que ele realizou ao longo desses 30 anos. Não é à toa que José Eduardo Dutra - que não é sergipano de nascimento, mas tem como registro de nascença o cartório eleitoral de Sergipe - chegou à presidência nacional do PT graças ao trabalho que desenvolveu a partir de sua base de atuação, que é o Estado de Sergipe. Não me compete ficar me oferecendo para nada. Compete-me agir como tenho agido até agora: opinando, participando do debate nacional, colaborando com a presidenta Dilma, atuando com a direção do partido para fortalecer e manter sua hegemonia no cenário nacional. O futuro? Não sei. Meu foco está em cumprir com êxito a missão que me foi dada nesse segundo mandato. Agora, há um detalhe: no segundo mandato eu creio ter mais condições que no primeiro de opinar na política nacional e circular um pouco mais, para contribuir com o debate nacional e com o debate interno do PT. Com um governo concluído e outro em andamento, eu tenho uma experiência de 10 anos de executivo e a referência do que fiz no governo do Estado e na Câmara dos Deputados. A melhor forma de contribuir com meu partido é compartilhando nacionalmente esta experiência. É o que eu pretendo fazer.

Carlos Cauê - Com essa experiência de vida pública, que sensação você tem ao chegar aos 51 anos de idade com tal patrimônio? Isto responde às expectativas da sua geração e às suas aspirações pessoais?
Marcelo Déda - Do ponto de vista político, eu não tenho o direito de completar 100 dias de governo e dizer que me sinto realizado. Há muito o que realizar. A minha tarefa é gigantesca e eu preciso desenvolvê-la com êxito para, ao final desse ciclo de oito anos, olhar para trás e me declarar satisfeito com o que fiz pelo meu povo e pelo meu estado. Mas do ponto de vista pessoal, eu não posso deixar de reconhecer que estou vivendo um belo momento. Tudo que eu pretendi através da política eu consegui, mas o desenho do meu sonho foi muito bem feito. Eu queria ter um barco com o nome de "Nobre Vagabundo" e um sitiozinho na beira da praia, mas esses dois sonhos eu não os realizei. Mas ter sido escolhido por duas vezes pelo meu povo para liderá-lo, ter sido duas vezes prefeito da capital, ter sido líder de bancada enquanto deputado, são coisas que me deixam muito feliz.
Ontem eu fui a uma das mais singelas solenidades desde que eu governo, mas uma das que mais me emocionaram. Fui a Ilha de São Pedro, onde se situa a aldeia do povo Xocó. E foi justamente a luta dos Xocós, a primeira luta social da qual participei como militante, atraído pelos companheiros do DCE. Foi essa primeira luta que me arrebatou para a disputa social e depois para a briga política. Pois bem, trinta e poucos anos depois eu estou em um barco indo ao encontro daquela tribo. Do lado de lá está um cacique e alguns guerreiros paramentados para me receber. Naquele momento, eu olhei para uma margem e para a outra e é como se eu visse, na margem de lá o menino que eu fui aos 19 anos e na margem de cá, o homem que eu sou hoje, convidado a atravessar o rio do tempo até este porto, sem ter deixado a minha alma na outra margem. O meu retorno à ilha de Xocó revela de forma concreta que eu, para atravessar o rio, não precisei jogar fora a carga das minhas responsabilidades, as minhas convicções, os meus valores, as minhas ideias. Então, quando eu pisei do outro lado da ilha, já cheguei carregado da emoção de me reencontrar com a primeira luta da qual participei. Eu me encontrei com um menino e ele não me renegou e nem eu reneguei o menino que fui. Quando eu descerrei a placa da igreja que nós restauramos, lá estava o meu nome e o nome do cacique, marcando a emoção desse meu encontro comigo mesmo na mais cara das coerências, aquela que a alma cobra e a consciência exige. É a luta dos Xocós tendo uma outra dimensão em minha vida.
Esta travessia para a ilha dos Xocó me diz que, se eu não tenho vergonha da vida que vivi, não terei vergonha da vida que viverei.

Fonte: Universo Politico.com

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